quinta-feira, 2 de junho de 2011

AMADO FILHO...

O dia que este velho já não seja mais o mesmo: tenha paciência e me compreenda...
Quando derramar comida sobre a minha camisa e esquecer como amarrar os meus sapatos, tenha paciência comigo e se lembre as horas que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas...
Se quando conversar comigo, repito e repito as mesmas palavras e sabes que sobra quando termina, não me interrompas e me escute. Quando você era pequeno, para que dormisse, tive que te contar milhares de vezes a mesma história até que fechasse os olhinhos...
Quando estivermos reunidos e sem querer fizer as minhas necessidades, não fique com vergonha e compreenda que eu não tenho culpa disto, pois já não as posso mais controlar. Pensa quantas vezes menino (a) te ajudei e estive pacientemente a seu lado esperando que terminasse o que estava fazendo...
Não me reproves por não querer tomar banho; não me chames a atenção por isso. Lembre-se dos momentos que te persegui e os mil pretextos que inventava para tornar mais agradável o seu banho...
Quando me veres inútil e ignorante diante das coisas tecnológicas que já não poderei entender, te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário para não me machucar com o seu sorriso sarcástico. Lembre-se que fui eu quem te ensinou tantas coisas. Comer, vestir e como enfrentar a vida tão bem como o fez, são produtos de meu esforço e perseverança...
Quando em algum momento, enquanto conversamos eu chegue a me esquecer do que estávamos falando, me dê todo o tempo que seja necessário até que eu me lembre, e se não posso fazê-lo, não fique impaciente, talvez não era tão importante o que falava e a única coisa que queria era estar contigo e que me escutasse nesse momento...
Se alguma vez já não quero comer, não insista, sei quanto posso e quando não devo. Também, compreendas que com o tempo já não tenho mais dentes para morder nem gosto para sentir...
Quando as minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, dá-me sua mão terna para eu me apoiar, como eu fiz quando começastes a caminhar com suas fracas perninhas...
Por último, quando algum dia me ouvir dizer que já não quero mais viver e só quero morrer, não se enfades. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com seu carinho ou com quanto te amei. Trate de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo e isto não é viver...
Sempre quis o melhor para você e preparei os caminhos que deve percorrer...
Então, pense que com este passo que me adianto a dar, estarei construindo para você outra rota em outro tempo, porém, sempre contigo. Não se sinta triste, enojado ou impotente por me ver assim. Dá-me seu coração, compreenda-me e me apóie como o fiz quando começaste a viver. Da mesma maneira que te acompanhei em seu caminho, te peço que me acompanhe para terminar o meu...
Dê-me amor e paciência, que te devolverei gratidão e sorrisos com o imenso amor que tenho por você.

Atenciosamente,

Teu Velho...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O MOMENTO DA REVELAÇÃO...

Antigamente eu dizia assim: existem três maneiras de você conhecer uma pessoa:
1) casando; 2) trabalhando; 3) viajando.
Os anos se passaram e eu continuo acreditando nisso, porém reformulei um pouco meu pensamento em relação a se conhecer. Mantenho o “trabalhando” e o “viajando”,mas substituo o “casando” por “separando”. É, hoje eu acho que mais do que casando, é separando que você conhece realmente quem foi aquela pessoa com quem você deitou durante alguns anos da sua vida. Isso pode te trazer alegrias, ou uma profunda decepção, ou quem sabe até muitas surpresas. Em qualquer um dos casos não desanime e pense como Roberto Carlos, “se chorei, ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.

Não acredito que os seres humanos nasceram para ser sozinhos. Quem gosta de almoçar sozinho ? Ou viajar sozinho ? Ou até mesmo comprar uma roupa sozinho ? Tudo bem, às vezes nada melhor do que você passar um período em sua própria companhia, mas depois de um tempo a alma começa a sentir necessidade de uma outra opinião. Você então começa a se relacionar com alguém e é aí que mora o perigo, porque se por um lado o ser humano não foi feito para viver sozinho, por outro, se relacionar é uma das artes mais complexas da humanidade. Tudo bem que no início tudo são flores, mas passado o início (que por sinal é um período bem curto) o buraco negro se abre. E é aí que entra a tal separação ! Foi aí que me surgiu uma questão: se juntar pessoas é sempre tão difícil, mas sozinhos também não sabemos ficar, será que o ser humano foi feito para se separar ? Então talvez seja até por isso que separando é a forma mais eficaz de se conhecer alguém. Mesmo porque as máscaras caem, ninguém quer mais agradar ninguém e vem à baila a REAL personalidade de cada um, com seus egoísmos, mesquinharias, chatices etc, etc. E como só depois da separação você passa a ser você mesmo, é aí que vai dar para avaliar se durante aquele tempo existiu mesmo amizade, consideração, carinho, ou se tudo não passava de fachada. Divagando assim, então me pergunto de novo: será que separar muitas vezes pode até significar unir ? Sim, porque fica tudo tão sincero, tão real. Os terrenos se delimitam, é tomada uma certa distância, as coisas muitas vezes clareiam. Deve ser por isso que só damos valor quando perdemos. Como a história do homem que, de saco cheio do sítio que ele já tinha há anos resolveu vendê-lo. Sentou para escrever o anúncio que ele colocaria no jornal. Começou a redigir:

“Vendo sítio maravilhoso, todo arborizado, com um pomar incrível e mais uma horta onde nascem sempre coisas deliciosas. Uma casa acochegante, estilo colonial, super bem decorada, com lareira, forno a lenha de pizza, quartos amplos, cheio de armários. Uma piscina aquecida, linda, com um escorrega delicioso. Em cima de uma montanha que tem uma vista deslumbrante para o infinito...”

Daqui a pouco ele parou e se deu conta do que ele mesmo estava escrevendo. Leu todo anúncio e concluiu:

Puxa vida, que lugar maravilhoso! Não tem dinheiro no mundo que pague isso. E desistiu!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

JUNTOS, MAS SEPARADOS...

“Aprendi com a fé que tudo o que você planeja dá certo, e comecei a planejar minha separação. Por falta de diálogo, meu casamento foi esfriando. Sentei para conversar com ele e a sensação foi ter tirado um peso da consciência. Falei que na podíamos viver de aparências e se machucando, e que continuaríamos a ser uma família. Como trabalhamos juntos e dependemos financeiramente um do outro, combinamos compartilhar datas comemorativas, carro, contas, empregada e cuidarmos um do outro para nosso filho sentir o menos possível nossa separação. Estamos morando juntos e fazemos todas as programações familiares como antes. Quanto tempo será que vamos conseguir viver nessa harmonia ? Nunca vi, li ou ouvi notícias que falem de separações bem resolvidas. Será utopia o que estamos vivendo ???”

Cíntia prepara o desembarque pacífico do seu casamento como uma complexa operação de guerra. Tem seus motivos. O principal é preservar o bem-estar do seu filho, em tenra idade, além de uma sociedade comercial, amigos em comum e sólidas famílias compartilhadas. Outro fator importante é conservar o laço de amizade que a une ao Fernando, seu futuro ex-marido.

No curso do processo, Cíntia teve uma curiosa revelação: observou que as pessoas preparam seus casamentos com enormes cuidados, não economizam para fazer uma cerimônia inesquecível, mas, se a relação fracassa, o movimento é inverso. Tudo é decidido de um dia para o outro, basta uma pequena mala com roupas mal guardadas, um retorno improvisado à casa paterna e só depois é que começam as clássicas consultas a advogados e terapeutas para avaliar as conseqüências. Os mesmos casamentos fabricados com paciência e amor são desmontados às pressas e explodem como bombas em traições, violências e mesquinharias diversas.Cíntia denuncia essa seqüência e se propõe a modificá-la na sua própria vida, preparando a separação com o mesmo cuidado com que organizou o casamento. Não ama nem deseja o Fernando, mas o admira como pai, amigo e sócio. Confia nele, não quer feri-lo. Acabou a relação Homem-Mulher, mas não quer perder o resto. Se os casados querem casa, os separados precisam ser vizinhos para que os filhos se desloquem sem dificuldade, conserve tios, avós, assim por diante. Será um projeto idealista ou romântico demais ? Não tenho a resposta pronta, estes são os meus comentários.- Não há revolução sem sangue – diziam os jovens combatentes, dando a entender que nenhuma mudança significativa é possível sem sacrifícios humanos ou materiais. A premissa vale também para a vida afetiva. A revolução da Cíntia não é simples. Pretende terminar um casamento de 12 anos, mas estar fisicamente próxima do ex-marido. Espera encontrar um novo amor, ou assistir a Fernando namorando outra mulher, sem sentir dor, ciúmes e principalmente sem sangue nem violência.As boas separações conseguem esses objetivos, porém operam com um fator essencial: a passagem do tempo, que tudo cura. As rupturas convencionais começam com violência e logram a paz no final do caminho. Não posso evitar a pergunta de qual será o destino da frustração, dos ciúmes, da decepção e da raiva inevitáveis nas relações humanas. Repito: os casamentos são construídos com amor e destruídos com ódio. Por isso me encontro diante de duas alternativas: a primeira, admitir que a Cíntia descobriu uma nova arma que funciona com uma pólvora diferente, que não explode nem machuca, uma pólvora do bem. A segunda é que a pólvora já foi descoberta e continua sem novidades a serviço da agressividade humana. O amor constrói em silêncio, o desamor destrói em estampidos. O desamor amoroso de Cíntia é um belo paradoxo, um projeto brilhante, porém difícil. A hostilidade é um sentimento desagradável, de preferência deveria evitá-lo, porém, nada que o tempo não cure.